☄ Céus

E ia-se o Ving, por entre nuvens de algodão púrpura ou azul. Nuvens brilhantes como palha de aço reluzindo sob o luar. E lá embaixo, eu debruçado no extremo direito do convés, contemplava as luzes se diluírem sob efeito da distância. Sim, estávamos deixando Divella. E eu, como um garoto apegado àquela alegoria artística que me enchera os olhos, me sentia um pouco vazio no ato de partir. Sorri levemente. Quem veio até mim, fora aquele tal das borboletas! Me alegrei um pouco ao contemplar o folclore de Divella ainda impresso na figura excêntrica do ser. Olhei-o, sem afastar meus braços da mureta.

- Graças a você, a tal história que você chama de teoria, se tornará mais forte! Gosto de você. Por que nos ajuda?

Espiei Richard por cima do ombro, certificando-me de que o meu parceiro de aventuras estava bem ao meio daqueles astutos piratas.

Ainda debruçado, esbocei um sorriso para a figura das borboletas. Não estava ao nosso lado por afeição ou coisa do tipo referente aos meus ideais, mas sim pelos seus. E por alguma coincidência à qual seria creditada ao tal Moros. E eu achava graça nas palavras da figura, quando relacionava toda a onda de sorte que me cobria as pernas, a algo tão insignificante que era a ideia de destino. Destino traçava eu, ora! E perfurando as nuvens púrpura, eu tentava crer na lealdade daqueles piratas do ar. Virei-me e andei para até mais próximo dos homens que trabalhavam, e com a autoridade de um homem que eu ainda não era, ordenei.

- Que nos dirijamos à Nebista! - Comecei, alcançando a atenção de cada um daqueles exaustos piratas. - Tenho assuntos a tratar com aqueles que se dizem os tais donos dos céus. Pessoas feito vocês...

E eu os via assentirem, sem muita relutância. O diferencia dos piratas do mar e do ar, estava mais clara. Os piratas do ar eram sim, mais compreensíveis e pendiam à intelectualidade. Não tão brutos quanto os do mar.

Na falta do que fazer, fiquei a observar os homens a trabalhar. E, curioso, eu logo espiaria as tais salas onde diziam pedalar alguns vários homens para fornecer energia à máquina. Serviço braçal e em alguns casos, escravo, imaginava eu. Sempre apaixonado por barcos, não pude deixar de apreciar aquela embarcação que flutuava sobre as fofas nuvens, em um azul celeste diferente daquele do mar. Eu iria assistir à cor do pano clarear, conforme o dia seguinte viesse. Pois não pretendia dormir. Fui até o timão, o qual um homem de olho mecânico e atencioso, calculava. Ele espiou-me, com a expressão dura e fria. Pensei eu que ele contestaria, mas nada disse. E me veio o questionamento, do quão fácil estavam as coisas, e de quão isso duraria... Um pouco atormentado, fiquei a contemplar o mar de nuvens que rasgávamos rumo à Nebista. Meus braços para trás. Meu queixo erguido. Meus olhos verdes faiscando.