☄ Angieses

Ela não correra feito uma garotinha assustada, então Leharuin teria que conversar com a colega de espécie. Sentou-se onde estava e lhe sorriu enquanto repetia a palavra dita pela garota.
— Olá. — As borboletas voavam pacificamente uma delas pousara no ombro de Leharuin. Suas asas batiam lentamente o que fez o jovem lembrar de algo relacionado ao sono das borboletas, mas era algo que ouvira quando criança e já não lembrava completamente... Apenas lembrava que era algo relacionado com a posição das asas, mas não estava muito certo... Os olhos calorosos estavam distantes agora, perdidos nesse novo pensamento. Quase se esquecera de que a garota ainda estava ali.

Uma curta risada devido a pergunta da garota. Lhe fazer mal! Ora essa! Balançou a cabeça negativamente, um sorriso fino no rosto.
— Não vejo motivos, mas isso não quer dizer que eu não possa.
E tornou a rir, aquela risada límpida que faziam as borboletas voarem mais depressa, como se estivessem alegres com aquela risada. Não faria mal à colega de espécie, não era necessário. Pelo contrário, iria ajudá-la. Tirou um saco de moedas do bolso e ofereceu à jovem.
— Não irei lhe fazer mal, mas aceite esse presente. Creio que precise.

Leharuin deu um breve sorriso, porém um tanto sombrio. Já começara a se cansar, nenhum colega de espécie lhe era interessante. Sempre as mesmas reações, e talvez fosse por isso que não gostasse dos humanos. Ou talvez uma herança de família.
— Por nada. Ora, menina, deixe disso. Viveu em cativeiro?
E tornou a sorrir, era raro encontrar pessoas que não o conheciam, afinal, Leharuin sempre fora uma figura chamativa, com todas aquelas borboletas o seguindo e os cabelos de cor incomum. Suspirou, por vezes era melhor ficar invisível.
— Diga a sua mãe que foi Leharuin quem lhe deu o dinheiro. E não precisa retribuir, sou um ladrão, pequena, posso me virar sozinho.
E novamente lhe sorriu, embora já não fossem tão calorosos. Deixou-se deitar naquela relva desbotada para encarar o Céu de pano. Esperava que a garota agradecesse mais uma infinidade de vezes, e então sairia correndo, feliz da vida, mas no fundo com medo de que ele mudasse de idéia e pegasse o presente de volta. Era o que geralmente acontecia, faltavam humanos interessantes no mundo. Oh, como faltava.

Balançou a cabeça negativamente enquanto sorria. Como aquela jovem pouco sabia!
— Não posso lhe explicar, tendo em vista o quão pouco você sabe... Não quero arruinar sua doce inocência, mas simplificando, digamos que algumas vezes uma sereia pode se apaixonar por um humano. Se a sereia der a luz a uma menina, ela vira sereia.
Tornou a deitar-se, pois seu braço começara a ficar dormente devido ao peso que estava suportando.
As coisas acabavam tão depressa... E lá estava Leharuin, entediando-se novamente. Logo as perguntas da jovem se esgotariam, ao menos as perguntas de fato interessantes.

E aquele olhar tornou-se frio e distante novamente. Oh, Leharuin, qual fora o tamanho de sua sorte?
Estendeu a mão e o dedo indicador, como se apontasse para algo, mas era apenas para que uma borboleta pousasse ali.
— Filho de uma sereia nasce humano.
Respondeu duramente enquanto observava a borboleta em seu dedo. Era uma maldição, a que carregava, talvez... Há quem gostasse.
— Mas em geral não duram muito. As sereias abandonam os filhos e ficam apenas com as filhas. Por causa disso, a maioria morre ainda bebê. Tive sorte, acho, as borboletas me salvaram e cá estou.
Deu um sorriso frio enquanto pensava como seria sua mãe, Leharuin imaginava que fosse parecido com ela, uma vez que era incrivelmente raro encontrar humanos de cabelos azuis. E talvez fosse por essa razão que evitava o mar, era o medo de sua mãe encontrar.
— Não fique encantada com isso. Não conheci outro filho de sereia, mas se todos que sobreviveram se parecerem comigo... Então herdamos mais de nossas mães do que de nossos pais. Sereias são perigosas, não se esqueça disso.
Repreendia a garota em tom seco, quase mostrando a verdadeira natureza por trás daquele olhar gentil e alegre. Quase mostrando a herança que sua mãe lhe deixara. Aquele desgosto pela raça humana.