☄ Havange

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 17:50

ATO NÚMERO 1

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Era um garoto de pé diante da infinidade oceânica. O espelho negro do mar refletia as estrelas na forma de brilhos esguios, que tremulavam conforme as ondas vinham e iam, hipnotizando o admirado jovem. Estava no cais, enquanto os outros se amontoavam, medrosos, dentro de suas casas. Temiam os piratas. Mas Aloysius, que nunca os vira, desejava ter o privilégio de presenciar a aproximação pirata, cortando a monotonia do porto àquela noite, ateando fogo àquele povo odioso. As pessoas lhe confundiam com uma garota. No ímpeto da alma, ele irritava-se, mas não contestava no centro das rodas que se formavam para apanhá-lo e agredi-lo verbalmente. Tinha sempre aquele olhar cansado, com olheiras profundas, procurando por oportunidades no mar.

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 17:54

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Passo torto, completamente torto! Um absurdo, ora essa, a boneca andava mesmo assim, não costurara direito e seu olho esquerdo onde estava? Oh, no bolso direito, mas não sabia costurar olhos, apenas pernas e braços e muito mal. E a perna torta andava torto e a boneca não gostando do lugar. -:-:- Não me faz bem, não me faz bem, oh Céu, como aguenta? -:-:- E desistira de tantos passos tortos, afinal um dia se cansa de torto andar. E a agulha onde estava?

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**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 17:56

Sombras altas sob as chamas das tochas tocavam-lhe o calcanhar. Anunciavam a presença de outro. Seria Anne, a sua amiga? Seria, quem? Um mero espiar por cima do ombro. O verde dos olhos por um certo momento tremulou na orbe ocular. Pois, o que seria, aquilo? Avistou rápido o mar e deu-lhe às costas. As pontas das vestes rasgadas dançaram com o rápido movimento. O olhar calculista tomava conhecimento daquela figura estranha, uma boneca? Uma maldição, assombração? Questiona a mente assombrada pelas insistentes dúvidas. Queria afogá-las no mar...

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:00

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Eis que finalmente, uma garota, garotas costuravam muito bem, a boneca lembra-se de seu braço direito muito bem costurado, nunca mais soltara, até que caíra e agora estava frouxo, mas não soltara. -:-:- Suplico-te, costura-me! -:-:- A boneca falara e já se levantara com seus tortos passos indo em direção a garota. Que lástima que lástima! -:-:- Encontro-me em estado deplorável, senhorita, perdoa-me. -:-:- Dissera a boneca ao alcançar a garota, mas agora que olhava de perto. -:-:- Rasgue-me, oh Céu! Perdoa-me, senhor, mas falta-me um olho, pois não sei costurar olhos, apenas pernas e braços e muito mal. -:-:- E deixara-se cair no chão, olhando para o estado deprimente de sua perna. E o Mestre se fora, pobre Cecille com passos tortos e vista ruim.

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:02

As palavras vinham-lhe, a boneca pensara que ele era uma garota... Não mais do que comum, ele assistiu-a sucumbir devido à perna solta. Sentia pena daquela menina de pano, mas que poderia fazer ele nas suas condições? Sua mãe passava horas a costurar sob a janela larga da sala, por onde a lua invadia, irradiante. A infelicidade, sua mãe não compartilhava de afeto pelo filho. Além do mais, aquela era uma boneca falante, como poderia explicar? Olhou para os lados, parecia tão vaga a sua calma! Certificou-se da ausência de pessoas. Agachou e pegou-a nos braços. Pesada. A cada passo sobre o cais, as tábuas rangiam e ameaçavam quebrar ao meio. Próximo à ponta leste do cais, estava ancorado um barco velho de onde irradiava a luz fraca da lamparina, na cabine. Desceu uma escada até a plataforma e embarcou, abriu a porta encostada com um chute e colocou a boneca sobre um estofado velho, sem metade da classe que tivera nos seus primeiros dias. Puxava as gavetas emperradas de um gabinete, com força, em busca de algo.

- Que é você?

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:03

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Deu-lhe um susto, é verdade, anos que não era carregado, pois não havia necessidade e se lhe fosse permitido corar, coraria, mas era apenas pano e pano não se tingia sozinho. E lá estava agora, em um barco velho, mas quem ligava para a idade? Não a boneca, o garoto talvez, afinal era humano e envelhecia. Mas bonecas não envelhecem, assistem o passar dos anos enquanto os outros morrem, ou desaparece. Pobre Cecille sem seu mestre. -:-:- Ora veja, que achas que sou? Uma boneca, é claro! Sou única em todo o mundo e portanto a mais bela, mas encontro-me em estado deplorável, não queria ser vista assim. Que lástima, que lástima, pobre Cecille sem mestre. É o que sou, ai de mim. -:-:- E se lhe fosse permitido chorar, choraria, mas era apenas pano e pano não se molha sozinho. Pegou sua agulha e carretel e olhava para a perna, saberia o garoto arrumá-la? -:-:- Deves descosturá-la, primeiro e sinto que perdi um pouco do que há dentro de mim... Sabia o nome, mas não lembro! Ai de mim, mas podes colocar folhas, elas servem também. E depois costuras, bem firme para que não solte de novo se por acaso eu cair! -:-:- Tagarelava a boneca, feliz por ter alguém com quem conversar.

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**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:05

Os olhos estavam descansando sobre os instrumentos depositados na gaveta. Ergueu-os para a boneca, escutando um pouco do óbvio. Os olhos verdes pairavam sobre a agulha. Como usaria aquilo? Custaria tentar? Temia piorar... Caminhou até o estofado e ajoelhou-se perante. A boneca citava um mestre, que Aloysius perguntaria sobre, mas preferia concentrar-se na perna da menina. Apanhou a agulha e o carretel. Levantou a agulha na ponta dos dedos, analisando com um misto de curiosidade e dúvida. Vira sua mãe fazer isso, ele seria capaz! Deveria de ser... Passou a descosturar, lento.

- Perdoe a minha inexperiência...

Os ouvidos ficavam atentos a qualquer som que não fosse a voz da boneca e o quebrar das ondas contra o casco do barco. Não queria que o vissem descosturando uma boneca, as chacotas já eram muitas, o que pensariam se o vissem naquela situação?

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:11

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E observava o garoto descosturando sua perna, mas devagar que o dia. -:-:- Dê-me isso, ora essa. -:-:- Puxou a linha com força e sua perna soltara-se do joelho. Realmente não sabia costurar, mas descosturar era algo realmente fácil. Que lástima, que lástima. Que faria agora? -:-:- Agora costure, espero que seja bom com criações como meu mestre, só sou boa em descosturar, mas costurar? Ai de mim. Mas teus cabelos, por que não cortas? -:-:- Perguntara ao devolver agulha e carretel para o jovem enquanto esperava pacientemente que ele a costurasse.

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**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:21

Falhara, veemente. Que sensação estranha de compartilhar palavras com uma boneca, um ser feito de pano, um ser vivo! Que fariam os outros se a vissem, que fariam? Aloysius apreciava as coisas diferentes do mundo. Como o céu e as estrelas de ouro, ou a lua parda. As coisas eram bonitas e estranhas. Mas, o garoto como qualquer outro, nascera e vivia em Lyrienso. Por que estranharia um céu de pano, se este é o céu como o conhece? Recebeu de volta os instrumentos, e pacientemente passou a costurar. Não que fosse bom naquilo, mas herdara de sua mãe a paciência necessária para o ato.

- Gosto assim.

Respondeu, simplório, sobre o cabelo um tanto embaraçado. Suas falas eram curtas, o contrário dos pensamentos. Sua voz rouca tinha algo de poético, como a de um daqueles artistas e filósofos que recitavam suas reflexões na praça pública de Miskronie. Costurava.

- "Mestre", a que se refere quando o cita?

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:24

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E a boneca assistia, ele realmente demorava, mas pelo menos não era um lugar tão ruim para sua saúde. Pobre Cecille! Poderia mofar com aquele ar úmido. -:-:- Feche a porta, faz frio e esse vento úmido me faz mal. -:-:- Comentara para o garoto, embora não sentisse o frio de fato, apenas imaginava como seria. Uma mentira tola, mas era realmente verdade sobre a umidade e a boneca morria de medo de ficar pior do que estava, sendo vaidosa como era. -:-:- Mestre? Sumiu há muito tempo e busco por ele, mas onde estará? Pobre Cecille! Criou-me, o mestre, uma verdadeira obra prima! Sinto falta, sim, não descosturava com facilidade e quando ocorria ele costurava com tamanha perfeição. O tempo em que eu era bela, veja a lástima que estou! Sem um olho e uma perna. E um braço frouxo. Como aguenta, Céu? Ele não rasga, e se rasgasse? -:-:- Dizia em tom infeliz e pensativo enquanto observava o bailar lento da agulha. -:-:- Cuidado. -:-:- Dizia sempre temendo o pior, perdera tanto enchimento ao longo dos anos! Estava deformada e a boneca odiava tudo aquilo.

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**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:26

Um misto de pena e raiva se entrelaçavam no coração. A boneca lamentava-se um tanto! Sim, o garoto considerava a ideia de ter uma perna descosturada e um olho ruim, terríveis. Mas Aloysius, com seus problemas, não ficava a se lamentar tanto! Largou o serviço pela metade e fechou a porta, forçando a maçaneta quebrada para que o vento não a abrisse. A cabine era minúscula, havia uma cama logo ao lado do gabinete. Nesse último repousavam papéis e um frasco de tinta, com uma pena mergulhada em si. Ajoelhou-se perante à boneca, apanhou a ponta da agulha e prosseguiu. Imaginou ter machucado o dedo, talvez fosse além da mera imaginação.

- Tal "mestre" desaparecera.

O silêncio permitia o avanço do som das ondas calmas a balançar o barco. A luz fraca criava sombras enormes de ambos na parede ao lado. Terminara a costura, como pôde, e cortara a linha. Desdobrara as pernas para sentar, mais à vontade, no chão.

- Terrível, eu sei...

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:42

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E a boneca ficou de pé, dando alguns passos, estou sorriu olhando para o garoto. -:-:- Muito melhor, obrigada! -:-:- E tornou a sentar-se, pois estava cansada se é que uma boneca podia sentir-se assim. Talvez ela não quisesse ir embora. -:-:- Teu nome, qual seria? Até bonecas como eu tem nome, Cecille! E meu mestre também tem, embora eu não o use. Complicado, diria. -:-:- E movida pela curiosidade, ela tornou a levantar e a espiar a cabine, mas ficou encantada com a tinta e os papéis, lembravam tanto de casa. A boneca sentou na cadeira e pegou a pena e um papel e nele escreveu seu nome várias vezes e um carretel de linha com uma agulha. -:-:- Sinto-me horrível... Uma boneca que não costura e depende dos outros. Como vocês dizem? Coração partido? É de partir o coração, sim. Uma vergonha, completa vergonha que sinto. -:-:- E desenhara um coração no papel, um coração costurado, pois sabia desenhar só não sabia costurar. E agora pegara outro papel, acabaria por gastar todos os papéis do barco se ninguém lhe impedisse, mas desta vez desenhava o garoto costurando sua perna, desenhava pacientemente prolongando sua ida, pois sabia que falava demais e aquele era um humano paciente.

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**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:44

Mal pudera respondê-la, e ela apresentava-se. Boneca entusiasta, observava ele. Aloysius deitou a cabeça para trás, enquanto sentado no chão, para observar de ponta cabeça a menina a desenhar. Mas aquilo era desconfortável. Levantou-se e foi para o lado do gabinete, deslizando a mão sobre a borda suave de madeira. Parou ali para observar, com os olhos verdes interessados, os desenhos da boneca.

- Aloysius. O nome pelo qual me chamam. Não se envergonhe, Cecille. Podemos encontrar seu mestre.

Prometia tanto... Passara os anos prometendo à Anne que velejariam de encontro aos limites do oceano. Seriam os primeiros! Então todos os piratas os respeitariam, eles teriam uma tripulação! Mas até o momento, limitava-se a prometer.

- Que tanto desenha?

Indaga, um tanto preocupado com as folhas. Teria de usá-las para escrever um diário de bordo quando partisse.

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:46

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Nome complicado, também, a boneca continuava a desenhar, mas era impossível não sentir vergonha, mas que alegria a boneca sentira quando o garoto falara que a ajudaria a encontrar seu mestre! -:-:- Podemos? Óh, Céu, meu coração tão leve! Acho que é isso que um humano diria, mas nunca fui, sou apenas uma boneca, não tenho coração. -:-:- Comentara rapidamente e então ele perguntara sobre o desenho o que fez a boneca voltar sua atenção para ele, de forma que terminara agora. Entregou então o desenho para Alo, Aloy, que apelido poderia dar? Suspirou ao olhar para o desenho, sentia saudades. -:-:- O mestre gostava de meus desenhos. -:-:- E depois não falou mais nada, ficou apenas observando a mesa, perdida em lembranças que talvez nunca voltariam, pobre Cecille.

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**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:49

As horas corriam, Chronos, impiedoso. Contavam histórias sobre Chronos. O garoto distraía-se, velejando por entre os detalhes do desenho. Estava ele ali, ilustrado. Esboçou um sorriso, não era muito de sorrir, mas gostara.

- São bonitos... Cecille, imagino eu que não tenha onde passar a noite. Passaria aqui?

Os olhos cansados estavam fixos na curiosa pele de pano dela. Despertava uma súbita vontade de abraçá-la, mas sabia, não era uma boneca qualquer.

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:51

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Pobre Cecille e suas lembranças felizes! Sentia tanta falta. Mas a boneca sorriu ao escutar o elogio do garoto e balançou a cabeça positivamente para sua pergunta. -:-:- Obrigada, mais uma vez, és paciente para um humano, sim. -:-:- E o assistiria dormir, seria engraçado talvez, alguns humanos são engraçados enquanto dormem, mas bonecas não dormem de verdade, apenas precisam de um lugar para se proteger do vento frio e úmido, pois se ficar muito molhada desbota e até mofa! Pobre Cecille, que faria se mofasse? Ai de mim, ai de mim, ela pensava e tremia com a idéia.

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**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:52

Não poderia voltar para casa. A sua mãe lhe puniria por ter estado fora durante a noite. Passaria a noite ali.

- Esteja à vontade. Fique com a cama.

Ingenuidade sua, imaginava que ela pudesse dormir. Ajeitou-se no estofado velho e, sem cerimônias, preparou-se para adormecer. Embarcar nos seus sonhos, que o levariam para longe de si mesmo.

FIM

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:53

ATO NÚMERO 2

Um sol se afasta como um último olhar, para permitir ao mundo mergulhar na inércia da noite.
São minhas palavras.
Os românticos deleitam os últimos minutos dourados aos beijos e amassos.
Eu sou só, introspectivo demais para notar.
Nas pontes do cais, de pé diante do mar, está o garoto que sei, chamarão de garota por chacota.
Já aprendi a nem tanto me importar.
Que tanto faz esse garoto, de nome Aloysius? Que tanto faz ele no cais?
Se uma resposta quer, eu contemplo ao mar.
Pessoas se acovardam, batem as portas das suas casas, conforme a noite vem.
A noite virá, e eu vejo-a carregando estrelas em fios prateados.

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:54

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:55

E quando toda a luz se foi para dar lugar à parda lua, restaram apenas dois.
Eu pouco me importava, uma provável Anne? Ou a boneca de pano?
A sombra esguia do homem tremulava sob a chama das tochas recém-acesas, queimavam nos candelabros das paredes.
Eu espiei o senhor de idade que as acendia.
No mero espiar Aloysius vira uma cartola daqueles senhores de posse, aqueles dos relógios de bolso.
Nunca fui à Miskronie, mas me contavam.
Aloysius saiu da pose indiferente, descruzou os braços e ficou a olhar o homem, com seus olhos afundados nas olheiras.
Que traria ele a esse fim de mundo?

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:55

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 18:57

Um sorriso veio, vazio, mas significativo de alguma forma.
Sou tão presunçoso, que mal retribuí.
Sob as estrelas de ouro dependuradas da noite, tão majestosas rodopiando lá em cima, girou o corpo e avançou um passo.
Estava eu movido pela criança da curiosidade que me puxava as mangas.
Caminhava para direção do homem, porque era um garoto condenado a ter uma mente mais ampla que a cidade.
Cheio de dúvidas, sou.

- Que traz um homem da cidade, a cá?

A voz era rouca e tinha poética no tom, algo delicado.
Nem sequer minha voz auxiliava meu reconhecimento como garoto.

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 19:00

**Administrador** Sáb 21 Jan 2012, 19:02

Eu via, o mar atuava-lhe como um espelho refletor de memórias. Atuava para muitos, assim. Quando o olhar dele escapou dos meus, eu segui-o para observar as águas compostas por sangue e lágrimas. Como aquele movimento constante das ondas me atraíam, inexplicável... Cansei de contemplar. De esperar por piratas que nunca vinham. Como desejos que nunca se concretizam, só pairam na abóbada da mente feito estrelas, cintilantes, promissoras, e utópicas, pois nunca se vira uma estrela de perto. Um suspiro lamentou por mim, e bastou isso. Eu abaixei a cabeça para puxar as mangas da minha camisa branca cheia de costuras tortas, mal feitas. Admito, minha mãe nunca gostara de mim, nunca costurara minhas roupas. Eu tentava imitar a perfeição de seus movimentos com a agulha, e falhava, sempre.

- A que se refere quando diz "saudade"?

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